sábado, 19 de dezembro de 2009

PREGHIERA SEMPLICE - S. Francesco d'Assisi


O SIGNORE, FA´ DI ME UNO STRUMENTO DELLA TUA PACE. 
DOVE È ODIO, FA´ CH´IO PORTI L´AMORE, 
DOVE È OFFESA, CH´IO PORTI IL PERDONO, 
DOVE È DISCORDIA, CH´IO PORTI L´UNIONE, 
DOVE È DUBBIO, CH´IO PORTI LA FEDE, 
DOVE È ERRORE, CH´IO PORTI LA VERITÀ, 
DOVE È DISPERAZIONE, CH´IO PORTI LA SPERANZA, 
DOVE È TRISTEZZA, CH´IO PORTI LA GIOIA, 
DOVE SONO LE TENEBRE, CH´IO PORTI LA LUCE. 

O MAESTRO, FA´ CH´IO NON CERCHI TANTO: 
ESSERE CONSOLATO, QUANTO CONSOLARE; 
ESSERE COMPRESO, QUANTO COMPRENDERE; 
ESSERE AMATO, QUANTO AMARE. 

POICHÈ: 
SI È DANDO CHE SI RICEVE; 
PERDONANDO CHI SI È PERDONATI; 
MORENDO CHE SI RISUSCITA A VITA ETERNA. 

 S. FRANCESCO

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SÉSAMO - Delvanir Lopes

Quero uma garça verde
revoar com ela, e amparado em suas asas, atingir o azul,
fazer rodopios e pensar que sou eu quem voa
e ser levado nos dedos do vento para qualquer lugar.
Quero uma garça que carregue no bico
sementes de gergelim, férteis, sedentas da criação,
e me deixe ser seu acólito na tarefa de espalhá-las,
sem lugar certo, sem direção;
tomá-las nas mãos e atirar a esmo,
ver os pequenos grãos caindo como chuva
penetrarem nos traços deixados na terra.

Quero uma garça negra,

que voe baixo para que ouça o ruído do solo
engolindo as sementes;
que voe alto para que veja as primeiras folhas
esticando-se para o sol,
e que caminhe nas águas
para que eu entenda a cor do entardecer.

Delvanir LOPES. 15/9/09 - Inéditos

domingo, 8 de novembro de 2009

Olhai os lírios do campo - Érico Lopes Veríssimo

Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na "outra vida". Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo. (...) E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária e do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar.

VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Globo, 1995, pp. 154-155

domingo, 1 de novembro de 2009

VOO - Cecília Meireles


A Darcy Damasceno



Alheias e nossas
as palavras voam.
Bando de borboletas multicolores,
as palavras voam.
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Voam as palavras
como águias imensas.
Como escuros morcegos
como negros abutres,
as palavras voam.
oh! alto e baixo
em círculos e retas
acima de nós, em redor de nós
as palavras voam.
E às vezes pousam.


(abril 1964)
MEIRELES, CECÍLIA. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987, p. 627

sábado, 24 de outubro de 2009

CANTICO DI FRATE SOLE (século XIII)


canticum fratis solis vel Laudes creaturarum



Altissimo, omnipotente, bon Signore
tue so´le laude, la gloria e l´honore et onne benedictione.
Ad te solo, Altissimo, se confano
e nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi´signore, cum tucte le tue criature,
spetialmente messer lo frate sole,
lo qual´è iorno, et allumini noi per lui
et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si´, mi´Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l´ài fomate clarite e pretiose e belle.
Laudato si´, mi´Signore, per frate vento
e per aere nubilo e sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sostentamento.
Laudato si´, mi´Signore, per sor´acqua,
la quale è molto utile et humile et pretiosa et casta.
laudato si´, mi´Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
et ello è bello et iocondo e robustoso e forte.
Laudato si´, mi´Signore, pero sora nostra madre terra,
la quale ne sustenta et governa,
e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.
Laudato si´, mi´Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore
e sostengono infirmitate e tribulatione.
Beatti quelli ke´l sosteranno in pace
ca da te, Altissimo, sirano incoronati.
Laudato si´, mi´Signore, per sora nostra morte corporale
da la quale nullu homo vivente po´scappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ca la morte secunda no ´l farà male.
Laudate et benedicete mi´Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.

(Interpretação) http://www.hottopos.com/seminario/sem2/pedro.htm

sábado, 10 de outubro de 2009


CANÇÃO - Emilio Moura

Viver não dói. O que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivivdo.
Que tudo o mais é perdido.
Emílio Moura, Itinerário Poético - poemas reunidos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002, p. 111

domingo, 20 de setembro de 2009

DESENHOS - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes: grafite 6b, giz de cera, caneta esferográfica
Delvanir Lopes: lápis aquarela, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, pastel seco,caneta esferográfica

sábado, 5 de setembro de 2009

PORQUÊS - Delvanir Lopes






PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS

E ENCONTREI PORÉNS.

DEIXEI O INCONDICIONAL E CHEGUEI AO DEFINIDO.

ERAM MAIS VÍRGULAS DO QUE PONTOS FINAIS;

INTERROGATIVAS E RETICÊNCIAS.

NÃO CHEGAVA A AFIRMAÇÕES

E SEMPRE HAVIA O TALVEZ

PENETRANDO TUDO E ALIMENTANDO O INEXATO.


PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS,

MAS NÃO APARECEM, NEM SOMEM.

FLORESCEM, AUMENTAM,

IMPREGNAM-SE MAIS E MAIS.

NÃO CHEGUEI À ASSERTIVA.

FAREI POEMAS DE PORQUÊS.


Delvanir Lopes
(Ponte do Tal Vez, 2008, p. 11)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

outras pinturas - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes: giz de cêra sobre canson
Delvanir Lopes: giz de cera e corretor líquido sobre canson
Delvanir Lopes: óleo sobre duratex

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A FUNÇÃO DA BEBIDA COMO ANTI-ESTRESSE - Sêneca



1. Convém indulgência para o espírito. Assim, de quando em quando, devemos conceder-lhe algum repouso que age sobre ele qual alimento restaurador. Os passeios devem ocorrer em paragens abertas a fim de que o espírito fique estimulado com ar puro. [...]

Também uma refeição alegre e uma bebida mais copiosa. Por vezes, pode até tocar as raias da embriaguês, não a ponto de submergir nelas, mas, apenas, a ponto de descontrair, já que ela dissolve as inquietações, mexe até na raiz de nosso ânimo, curando de certas tristezas como também até enfermidades. "Liber" (1) foi denominado o inventor do vinho não por causa da liberdade que comunica à língua e, sim, porque libera o espírito da escravidão dos afazeres e fortalece, dando-lhe mais vigor e audácia para novos projetos. [...]

3. A dar crédito ao poeta grego: "É docura, às vezes, perder o senso." Também Platão dizia: "Em vão bate a porta das Musas quem está de sangue frio." E mesmo Aristóteles: "Não há gênio algum grandioso sem alguma mescla de loucura, pois só um espírito acicatado atreve-se a dizer certas coisas inéditas.

4. Realmente, o espírito, quando desdenha a vulgaridade do costumeiro e alça-se até a celsitude com o entusiasmo sacro que o anima e arrebata, somente então é que ele profere palavras divinas com boca de mortal.

O sublime fica inatingível, enquanto o espírito está atrelado a si mesmo. Necessário que se afaste do corriqueiro e do usual. Liberte-se e, mordendo o freio, arrebate consigo o cavaleiro, que é levado às alturas, onde jamais chegaria só por si mesmo.(2)

(1) - um dos títulos de Baco, deus do vinho
(2) - "So long as it is left to itself, it is impossible for it to reach any sublime and difficult height; it must forsake the common track and be driven to frenzy and champ the bit and run away with its rider and rush to a height that it would have feared to climb by itself".
SÊNECA (4-65 aC) . 


Sêneca. A tranquilidade da alma. (cap. XX). São Paulo: Escala editorial, p. 82-83

domingo, 2 de agosto de 2009

CANTO TERZO - O INFERNO (DANTE)

La porta infernale - il vestibolo ove gl´ignavi corrono dietro un´insegna e son punzecchiati da mosconi e da vespe - Caronte nocchiero dell´Acheronte

Per me si va nella città dolente,
per me si va nell´eterno dolore
per me si va tra la perduta gente.

Giustizia mosse il mio alto fattore:
fecemi la divina potestate,
la somma sapienza e il primo amore.

Dinanzi a me, non fur cose create
se non eterne, ed io eterna dura:
lasciate ogni speranza, voi ch´entrate.

Queste parole di colore oscuro
vid´io scritte al sommo d´una porta;
perch´io: "Maestro, il senso lor m´è duro".

Ed egli a me, come persona accorta:
"qui si convien lasciare ogni sospetto;
ogni viltà convien che qui sia morta.

Noi sem venuti al loco ov´io t´ho detto
che tu vedrai le genti dolorose
ch´hanno perduto il ben dell´intellecto".

E poi che la sua mano alla mia pose
con lieto volto, ond´io mi confortai,
mi mise dentro alle segrette cose.
______________________

Chega o poeta às portas do inferno: Virgílio o precede - As almas dos egoístas mordidas por insetos vis - o rio Aqueronte e o barqueiro Caronte.

Entra-se por mim na cidade da tristeza:
entra-se por mim no abismo da eterna dor:
entra-se por mim na mansão dos condenados.

A eterna Justiça moveu Deus a criar-me:
obra sou da Divina Potestade,
da suma sapiência e do primeiro Amor.

Antes de mim não foram criadas,
senão substâncias eternas, e eu eternamente duro:
Vós, que em mim entrais, perdi toda a esperança de sair!

Vendo estas palavras escritas em caracteres negros,
na fachada de uma porta, voltei-me para Virgílio e lhe disse:
"Mestre, o sentido desta inscrição me espanta!"

E ele, como pessoa avisada,
notando em mim novos indícios de pavor, respondeu:
"Aqui, nada de cobardia, ânimo resoluto."

Somos chegados ao lugar, onde, como te preveni,
havias de ver imersos em abismos de tormentos os desgraçados,
que perderam o maior Bem do intelecto.

E depois, tomando-me pela mão
com semblante alegre, que foi parte para me confortar,
introduziu-me nas cousas arcanas.


(ALIGHIERI, Dante. Obras Completas - contendo o texto original em italiano e a tradução em prosa portuguesa. Trad, Mons. Joaquim P. de Campos. São Paulo: Editora das Américas, sd. (vol. 2), p.68-71.

sábado, 18 de julho de 2009

NÃO - Delvanir Lopes


NÃO




Talvez não sejamos mais flores do mesmo jardim
e nosso perfume caminha por ventos diferentes.
Quem sabe o instante fez com que soubéssemos
Que a noite se estrela e se embeleza para cada um.

Não sei se sentiu o coração desmoronar lá
De uma maneira que pareceu ao despetalar da flor;
Não havia insetos, nem música que nos transportasse
E choramos naquele momento mesmo.

E se seu barco caminha por horizontes desiguais
E apenas podes acenar de longe e içar sua vela
Eu aqui choro ao vê-la e lamento não poder estar em seu barco.

Não queremos deixar de nos habitar
Quem garante que nossas cascas durarão?
São palavras que têm o poder de instaurar e destruir
Fujamos delas, amemos.

A noite continua produzindo estrelas
Mas nossa preocupação está em nós, não nelas,
Por isso é que nos confundimos
Queremos dar respostas às estrelas. Não... ( )

So, count your garden by the flowers
Never by the leaves that fall;
Count your days by the golden hours
Don’t remember clouds at all.

Count your night by stars, not shadows
Count your life with smiles, not tears,
And with joy through all your lifetime
Count your age by friends, not years.

Delvanir Lopes. In. Ponte do Tal Vez , p. 12

domingo, 5 de julho de 2009

Esse rosto na sombra - Cecília Benevides de Carvalho Meireles

Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Ideias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.

Nome: pequena lágrima atenta.



(Cecília Meireles -1901-1964-Solombra, poema 27)
THE GOLDEN KEY

One winter, when a deep snow was lying on the ground a poor boy had to GO out in a sledge to fetch Wood. As soon as he had collected together a sufficient quantity, he thought that before he returned home he would make a fire to warm himself at, because his limbs were so frozen. So sweeping the snow away he made a clear space, and presently found a small gold key. As soon as he picked it up, he began to think that where there was a key there must also be a lock; and digging in the earth he found a small iron chest. “I hope the key will fit”, thought he to himself. “There are certainly great treasures in this box!” He looked all over it, but could not find any key-hole; till at last he did discover one, which was, however, so small, that it could scarcely be seen. He tried the key, and behold!! It fitted exactly. Then he turned it once round, and now we must wait until he has quite unlocked it, and lifted the lid up, and then we shall learn what wonderful treasures were in the chest!

(GRIMM, Wilhelm and Jacob. The Golden key. In. Grimm’s Fairy Tales, New York: Barnes & Noble Classics, 2003, p. 508)

domingo, 21 de junho de 2009

Alguns desenhos meus - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - óleo sobre duratex
Delvanir Lopes - látex sobre parede Delvanir Lopes - grafite sobre canson
Delvanir Lopes - giz de cêra sobre canson

sábado, 20 de junho de 2009

MOVIMENTO DO INCERTO - Delvanir Lopes




Deixar-se
na escuridão findar e não querer
a luz do novo
é o cego que não se permite ver,
o sedento que não quer água
ou o faminto que morre diante do alimento.

Solidão com os seus
não se desfaz com o desejo,
mas a busca do movimento
para alcançar o sol
é que dá sentido à mudança.

Cadáver que renasce,
silhueta se definindo com a claridade,
são os passos em
direção ao novo.
Superação do querer.

Escuridão que quer ser luz,
água que quer aniquilar sequidão,
alimento que quer ser corpo.
Movimento do incerto.

Delvanir Lopes. In
Ponte do Tal Vez, p. 52

sexta-feira, 19 de junho de 2009

PENSEI NA LUZ DO SOL - Delvanir Lopes




Pensei na luz do sol
Que se banhava em minha tez
E na flor que impregnou seu perfume
Em cada parte de meu ser.

Oh sutil favônio
Que foges da minha mão
E escapas do meu olhar,
Prende com tuas garras frágeis
Em mim a felicidade!

Pensei em paisagens longas
Que meus olhos não foram capazes de ver
E nas inúmeras sensações que tive
Ao tocar, ainda que pouco, tua presença.

Oh aragem que, sem direção,
Me levas tão perto de mim
E mostras o profundo que não sei
Ao achar que me conheço!

São sons, delícias, visões,
Que não fiz nem provei.
São ilusões que o vento transporta
Em tua carruagem.

Oh luz que penetras o sonho -
Escuridão, que morres e tudo mostras -
Traze em teu hálito de fogo
As sementes do meu porvir!


Delvanir Lopes. In
Favônio, p. 17-18