quinta-feira, 30 de julho de 2015

IMORTAL ATITUDE - Cruz e Souza



Bierstadt_- Among_the_Sierra_Nevada_Mountains_-_1868




Abre os olhos à Vida e fica mudo!
Oh! Basta crer indefinidamente
para ficar iluminado tudo
de uma luz imortal e transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,
a alma risonha, lúcida, vidente...
E abandonar o sujo deus cornudo,
o sátiro da Carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,
o infinito gemido dos gemidos
que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços
para o eterno Silêncio dos Espaços
e no Silêncio emudecer olhando.

Cruz e Souza. Imortal Atitude. In Poesia. Rio de Janeiro: agir, 1982, p 72

quinta-feira, 23 de julho de 2015

EVANGELIUM SECUNDUM LUCAM - Novum Jesu Christi Testamentum



Bonum est sal.
Si autem sal evanúerit in quo condiétur?
Neque in terram, neque in sterquilinium útile est,
sed foras mittétur.
Qui haber aures audéndi,
áudiat.

Evangelium secundum Lucam XIV, 34-35. In p. Novum Jesu Christi Testamentum, 1911, p. 196

O sal, de fato, é bom. 
Porém, se até o sal se tornar insosso, com o que se há de salgar?
Não presta para a terra, nem é útil para o estrume:

jogam-no fora. 
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

tradução - Bíblia de Jerusalém, edições Paulinas. 



terça-feira, 21 de julho de 2015

LABIRINTOS - Delvanir Lopes

Escher - 1953 - Relativity

Os olhos silenciosos da noite espiavam de longe
as sombras do labirinto:
suas antigas paredes sinuosas
cercando caminhos,
apontando tantas direções.

Só uma chegada
para uma única partida.

Caminho que se desenha quando o passo é dado,
sempre incerto,
sempre necessário.

As vozes presas nos muros tão altos
confundiam quem tateava cada centímetro escuro,
guiavam quem,
sem esperança,
parava pela estrada,
entre pedras e espinhos.

Os olhos frios da noite não fecham,
viajam entre as colunas densas do labirinto
que se desdobra e confunde
em sombras e luzes que alternam e misturam
ventos e cheiros,
desejos e planos,
sentidos, memórias e tempos.

Só uma partida

para uma única chegada.

LOPES, Delvanir. Labirintos. In jardim de Concisos. Bookess: Florianópolis, 2015, p. 39.