quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Cântico da esperança - Rabindranath Tagore



Não peça eu nunca 
para me ver livre de perigos, 
mas coragem para afrontá-los. 

Não queira eu 
que se apaguem as minhas dores, 
mas que saiba dominá-las 
no meu coração. 

Não procure eu amigos 
no campo da batalha da vida, 
mas ter forças dentro de mim. 

Não deseje eu ansiosamente 
ser salvo, 
mas ter esperança 
para conquistar pacientemente 
a minha liberdade. 

Não seja eu tão cobarde, Senhor, 
que deseje a tua misericórdia 
no meu triunfo, 
mas apertar a tua mão 
no meu fracasso! 

Rabindranath Tagore




 in "O Coração da Primavera" 
Tradução de Manuel Simões



Let me not pray to be sheltered from dangers,
but to be fearless in facing them.
Let me not beg for the stilling of my pain,
but for the heart to conquer it.
Let me not look for allies in life’s battlefield,
but to my own strength.
Let me not crave in anxious fear to be saved,
but hope for the patience to win my freedom.
Grant that I may not be a coward,
feeling Your mercy in my success alone;
But let me find the grasp of Your hand in my failure.







O CONTO - Cecília Benevides de Carvalho Meireles







“No fim do mundo, nas terras brancas, frias, ignotas,
‘Vive um palácio muito bonito, com portas de ouro,
‘E um Rei que nunca na sua vida sofreu derrotas
‘E que tem gemas iguais à lua no seu tesouro…

Para se ir lá, sobem-se muitas, muitas montanhas,
‘Passam-se mares todos revoltos sob procelas,
‘Descem-se abismos em cujas negras, mudas entranhas
‘Dragões de fogo fazem perguntas, mostrando as goelas…

Anda-se muito, sofre-se muito… Mas é preciso,
‘Para chegar-se ao palácio lindo no fim do mundo,
‘Que a alma, ao contrário, seja um caminho liso, bem liso,
‘Como o céu claro, puro, bondoso, grande, profundo…

Quando se alcançam as terras brancas, frias, ignotas,
Sozinhas se abrem as portas de ouro, caladamente…
E o Rei que nunca na sua vida sofreu derrotas
‘Estende em taça cor das estrelas muito remotas
‘A água que apaga todas as dores da alma da gente…”

Cecília Meireles

In Acervo do memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

É ESTRANHO - Henriqueta Lisboa




É estranho que, após o pranto
vertido em rios sobre os mares
venha pousar-te no ombro
o pássaro das ilas, ó náufrago.

É estranho que, depois das trevas
semeadas por sobre as valas,
teus sentidos se adelgacem
diante das clareiras, ó cego.

É estranho que, depois de morto,
rompidos os esteios da alma
e descaminhado o corpo,
homem, tenhas reino mais alto.




 Henriqueta Lisboa In Flor da Morte