I
O sol oriental brilha nas nuvens,
mais docemente a viração murmura
e mais doce no vale a primavera
saudosa e juvenil é toda em rosa...
como os ramos sem folhas
do pessegueiro em flor.
[...]
II
Debalde nos meus sonhos de ventura
tento alentar minha esperança morta
e volto-me ao porvir...
A minha alma só canta a sepultura
e nem última ilusão beija e conforta
meu ardente dormir...
III
Tenho febre...meu cérebro transborda.
Eu morrerei mancebo, inda sonhando
da esperança o fulgor...
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme a lira...morrerei cantando
o meu único amor!
IV
Meu amor foi o sol que madrugava
o canto matinal da cotovia
e a rosa predileta...
Fui um louco, meu Deus, quando tentava
descorado e febril nodoar na orgia
os sonhos de poeta...
[...]
AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos