Viver não dói. o que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distãncia infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
MOURA, Emílio.Itinerário Poético: poemas reunidos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 111.