POSLÚDIO
1
É belo calar-se juntos,2
Mais belo rir juntos,
Sob a ternura de um céu de seda,
Encostados no musgo da faia,
Rir afetuosamente com amigos, riso claro,
E mostrar-se mutuamente dentes brancos.
Se faço bem, calaremos;
Se falo mal – riremos,
E de mais a mais faremos mal,
Mais mal faremos, mais mal riremos,
Tanto que desceremos ao fosso.
Amigo! Sim! Assim deve ser?
Amém! E até logo!
Sem desculpa! Sem recusa!
Concordem, alegres homens livres pelo coração,
Com este livro do absurdo
Ouvido e coração e moradia!
Acreditem em mim, meus amigos, não é maldição
Que me deixou assim em meu absurdo!
O que encontro, o que procuro –
Já esteve alguma vez num livro?
Honrem em mim os loucos!
Aprendam deste livro louco
Como a razão evolui – “para o absurdo”!
Meus amigos, assim deve ser?
Amém! E até logo!
NIETZSCHE, Friedrich W.Poslúdio. In Humano, Demasiado Humano.Trad. Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2007, p. 303-304.