La porta infernale - il vestibolo ove gl´ignavi corrono dietro un´insegna e son punzecchiati da mosconi e da vespe - Caronte nocchiero dell´Acheronte
Per me si va nella città dolente,
per me si va nell´eterno dolore
per me si va tra la perduta gente.
Giustizia mosse il mio alto fattore:
fecemi la divina potestate,
la somma sapienza e il primo amore.
Dinanzi a me, non fur cose create
se non eterne, ed io eterna dura:
lasciate ogni speranza, voi ch´entrate.
Queste parole di colore oscuro
vid´io scritte al sommo d´una porta;
perch´io: "Maestro, il senso lor m´è duro".
Ed egli a me, come persona accorta:
"qui si convien lasciare ogni sospetto;
ogni viltà convien che qui sia morta.
Noi sem venuti al loco ov´io t´ho detto
che tu vedrai le genti dolorose
ch´hanno perduto il ben dell´intellecto".
E poi che la sua mano alla mia pose
con lieto volto, ond´io mi confortai,
mi mise dentro alle segrette cose.
______________________
Chega o poeta às portas do inferno: Virgílio o precede - As almas dos egoístas mordidas por insetos vis - o rio Aqueronte e o barqueiro Caronte.
Entra-se por mim na cidade da tristeza:
entra-se por mim no abismo da eterna dor:
entra-se por mim na mansão dos condenados.
A eterna Justiça moveu Deus a criar-me:
obra sou da Divina Potestade,
da suma sapiência e do primeiro Amor.
Antes de mim não foram criadas,
senão substâncias eternas, e eu eternamente duro:
Vós, que em mim entrais, perdi toda a esperança de sair!
Vendo estas palavras escritas em caracteres negros,
na fachada de uma porta, voltei-me para Virgílio e lhe disse:
"Mestre, o sentido desta inscrição me espanta!"
E ele, como pessoa avisada,
notando em mim novos indícios de pavor, respondeu:
"Aqui, nada de cobardia, ânimo resoluto."
Somos chegados ao lugar, onde, como te preveni,
havias de ver imersos em abismos de tormentos os desgraçados,
que perderam o maior Bem do intelecto.
E depois, tomando-me pela mão
com semblante alegre, que foi parte para me confortar,
introduziu-me nas cousas arcanas.
(ALIGHIERI, Dante. Obras Completas - contendo o texto original em italiano e a tradução em prosa portuguesa. Trad, Mons. Joaquim P. de Campos. São Paulo: Editora das Américas, sd. (vol. 2), p.68-71.