ANDRADE, Carlos Drummond de. Igual - Desigual. In: __________. Literatura comentada. 2. ed. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1988. p. 144-145.
POIESIS
criação, fabricação e confecção do fazer poético
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
Carlos .DRUMMOND de Andrade - Igual-desigual
segunda-feira, 4 de março de 2024
SONETO DE AMOR - José Régio
Não me peças palavras,
nem baladas, Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José RÉGIO. José. Soneto de amor. In: ANDRADE, Eugénio de. Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa.
John KEATS - Endymion
(excerpt)
O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.
Assim, cabe tecer cada momento
Nessa grinalda que nos entretece
À terra, apesar da pouca messe
De nobres naturezas, das agruras,
Das nossas tristes aflições escuras,
Das duras dores. Sim, ainda que rara,
Alguma forma de beleza aclara
As névoas da alma. O sol e a lua estão
Luzindo e há sempre uma árvore onde vão
Sombrear-se as ovelhas; cravos, cachos
De uvas num mundo verde; riachos
Que refrescam, e o bálsamo da aragem
Que ameniza o calor; musgo, folhagem,
Campos, aromas, flores, grãos, sementes,
E a grandeza do fim que aos imponentes
Mortos pensamos recobrir de glória,
E os contos encantados na memória:
Fonte sem fim dessa imortal bebida
Que vem do céus e alenta a nossa vida.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Elizabeth Barrett Browning - HOW DO I LOVE THEE?
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day’s
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood’s faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
This poem is in the public domain.
segunda-feira, 23 de outubro de 2023
Da calma e do silêncio
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
EVARISTO, Conceição . Da calma e do silêncio. In: Poemas da
recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008
domingo, 3 de setembro de 2023
MOMENTO - Emílio Moura
Atiraram-te longe,
amarraram-te a mão e pregaram-te as asas.
agora, de repente,
tua presença me invade como a revelação do irreal,
meus sonhos te iluminam
e eu te reponho em ti.
In: Itinerário Poético, Belo Horizonte:UFMG, 2002, p. 143.
AVE MARIA, GRATIA PLENA
Ave Maria, gratia plena, Dóminus tecum.
PATER NOSTER - IESUS
Pater noster, qui es in caelis:
Sanctificétur nomen tuum.
Advéniat regnum tuum.
Amem.
Evangelium Secundum Mathaeum, caput VI, 9-13 In: NOVUM Jesu Christi Testamentum, 1911.
segunda-feira, 12 de junho de 2023
MÁRIO QUINTANA - Seiscentos e Sessenta e Seis
Seiscentos e Sessenta e Seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
(QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. 9. ed. São Paulo: Globo, 2003)
domingo, 23 de abril de 2023
ACEITAÇÃO - Cecília Meireles
MULHER AO ESPELHO - Cecília Meireles
Hoje que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz.Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se tudo é tinta: o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queiraa moda, que me vai matando.Que me levem pele e caveiraao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados, olhos, braços e sonhos seuse morreu pelos seus pecados,falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,do alto penteado ao rubro artelho.Porque uns expiram sobre cruzes,outros, buscando-se no espelho.
sábado, 22 de janeiro de 2022
Canticum Zachariae -Evangelium Secundum Lucam 1, 67-80
67. Et Zacharías pater eius replétus est Spíritu Sancto: et prophetávit dicens:
68. Benedíctus Dóminus Deus Israel, quia visitávit et fecit redemptionem plebi suae;
69. Et eréxit cornu salútis nobis: in domo David púeri sui.
70. Sicut locútus est per os sanctórum, qui a saeculo sunt, prophetárum eius:
71. Salútem ex inimícis nostris, et de manu ómnium, qui odérunt nos:
72. Ad faciéndam misericórdiam cum pátribus nostris: et memorári testaménti sui sancti.
73. Iusiurándü, quod iurávit ad Abraham patrem nostrum, datúrum se nobis:
74. Ut sine timóre, de manu inimicórum nostrórum liberáti, serviamus illi.
75. In sanctitáte, et iustítia coram ipso, ómnibus diébus nostris.
76. Et tu, puer, prophéta Altíssimi vocáberis: praeíbis enim ante fáciem Dómini paráre vias eius:
77. Ad dandam sciéntiam salútis plebi eius: in remissiónem peccatórum eórum:
78. Per víscera misericórdiae Dei nostri: in quibus visitávit nos, óriens ex alto:
79. Illumináre his, qui in tenébris, et in umbra mortis sedent: ad dirigéndos pedes nostros in viam pacis.
80. Puer autem crescébat et confortabátur spíritu: et erat in desértis usque in diem ostensiónis suæ ad Israel.
Novum Jesu Chrisi Testamentum.1912, p.144-145.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2022
ARTE DE AMAR - Amadeu Thiago de Mello
Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.
De uma vez por todas, 1996