terça-feira, 4 de março de 2025

Delvanir LOPES - Meio

Meio

 

Ao meio dia,
quando a sombra se esconde sob os pés,
sou só luz.
Talvez o outro não exista
para alterar os pensamentos.
 
À meia noite
quando nada veem os olhos abertos,
penso para saber que existo.
Talvez a manhã chegue
para iluminar o esquecimento.
 
Ao meio-dia
o tempo é sagrado,
não há ecos, não há vozes.
O silêncio, que parece eterno,
se desfaz num respiro.
 
À meia noite,
quando as vozes viajam no mistério,
sinto o sangue viajando no corpo,
ouço os respiros chegando no ar.
Toco o que não vejo
deslizando os dedos lentamente;
dou o passo sempre inseguro
na direção que não sei onde conduz.
 
Ao meio dia
sou o vigor do corpo que o sol começa a derreter.
Mas tanta luz cega os olhos despreparados,

queima as retinas e engana as ideias ...
escurece o claro.
No meu corpo o tempo caminha,
as sombras escondidas ganham vida,
vão devorando, lentamente, a luz,
apagando meu corpo
até que mergulhe na escuridão
e desapareça.


LOPES, Delvanir. Meio. In: Jardim de Concisos . Florianópolis/SC: Bookess, 2015, p. 43-44.

 

 

 

 

 

 


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