sábado, 24 de outubro de 2009

CANTICO DI FRATE SOLE (século XIII)


canticum fratis solis vel Laudes creaturarum



Altissimo, omnipotente, bon Signore
tue so´le laude, la gloria e l´honore et onne benedictione.
Ad te solo, Altissimo, se confano
e nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi´signore, cum tucte le tue criature,
spetialmente messer lo frate sole,
lo qual´è iorno, et allumini noi per lui
et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si´, mi´Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l´ài fomate clarite e pretiose e belle.
Laudato si´, mi´Signore, per frate vento
e per aere nubilo e sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sostentamento.
Laudato si´, mi´Signore, per sor´acqua,
la quale è molto utile et humile et pretiosa et casta.
laudato si´, mi´Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
et ello è bello et iocondo e robustoso e forte.
Laudato si´, mi´Signore, pero sora nostra madre terra,
la quale ne sustenta et governa,
e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.
Laudato si´, mi´Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore
e sostengono infirmitate e tribulatione.
Beatti quelli ke´l sosteranno in pace
ca da te, Altissimo, sirano incoronati.
Laudato si´, mi´Signore, per sora nostra morte corporale
da la quale nullu homo vivente po´scappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ca la morte secunda no ´l farà male.
Laudate et benedicete mi´Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.

(Interpretação) http://www.hottopos.com/seminario/sem2/pedro.htm

sábado, 10 de outubro de 2009


CANÇÃO - Emilio Moura

Viver não dói. O que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivivdo.
Que tudo o mais é perdido.
Emílio Moura, Itinerário Poético - poemas reunidos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002, p. 111

domingo, 20 de setembro de 2009

DESENHOS - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes: grafite 6b, giz de cera, caneta esferográfica
Delvanir Lopes: lápis aquarela, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, pastel seco,caneta esferográfica

sábado, 5 de setembro de 2009

PORQUÊS - Delvanir Lopes






PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS

E ENCONTREI PORÉNS.

DEIXEI O INCONDICIONAL E CHEGUEI AO DEFINIDO.

ERAM MAIS VÍRGULAS DO QUE PONTOS FINAIS;

INTERROGATIVAS E RETICÊNCIAS.

NÃO CHEGAVA A AFIRMAÇÕES

E SEMPRE HAVIA O TALVEZ

PENETRANDO TUDO E ALIMENTANDO O INEXATO.


PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS,

MAS NÃO APARECEM, NEM SOMEM.

FLORESCEM, AUMENTAM,

IMPREGNAM-SE MAIS E MAIS.

NÃO CHEGUEI À ASSERTIVA.

FAREI POEMAS DE PORQUÊS.


Delvanir Lopes
(Ponte do Tal Vez, 2008, p. 11)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

outras pinturas - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes: giz de cêra sobre canson
Delvanir Lopes: giz de cera e corretor líquido sobre canson
Delvanir Lopes: óleo sobre duratex

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A FUNÇÃO DA BEBIDA COMO ANTI-ESTRESSE - Sêneca



1. Convém indulgência para o espírito. Assim, de quando em quando, devemos conceder-lhe algum repouso que age sobre ele qual alimento restaurador. Os passeios devem ocorrer em paragens abertas a fim de que o espírito fique estimulado com ar puro. [...]

Também uma refeição alegre e uma bebida mais copiosa. Por vezes, pode até tocar as raias da embriaguês, não a ponto de submergir nelas, mas, apenas, a ponto de descontrair, já que ela dissolve as inquietações, mexe até na raiz de nosso ânimo, curando de certas tristezas como também até enfermidades. "Liber" (1) foi denominado o inventor do vinho não por causa da liberdade que comunica à língua e, sim, porque libera o espírito da escravidão dos afazeres e fortalece, dando-lhe mais vigor e audácia para novos projetos. [...]

3. A dar crédito ao poeta grego: "É docura, às vezes, perder o senso." Também Platão dizia: "Em vão bate a porta das Musas quem está de sangue frio." E mesmo Aristóteles: "Não há gênio algum grandioso sem alguma mescla de loucura, pois só um espírito acicatado atreve-se a dizer certas coisas inéditas.

4. Realmente, o espírito, quando desdenha a vulgaridade do costumeiro e alça-se até a celsitude com o entusiasmo sacro que o anima e arrebata, somente então é que ele profere palavras divinas com boca de mortal.

O sublime fica inatingível, enquanto o espírito está atrelado a si mesmo. Necessário que se afaste do corriqueiro e do usual. Liberte-se e, mordendo o freio, arrebate consigo o cavaleiro, que é levado às alturas, onde jamais chegaria só por si mesmo.(2)

(1) - um dos títulos de Baco, deus do vinho
(2) - "So long as it is left to itself, it is impossible for it to reach any sublime and difficult height; it must forsake the common track and be driven to frenzy and champ the bit and run away with its rider and rush to a height that it would have feared to climb by itself".
SÊNECA (4-65 aC) . 


Sêneca. A tranquilidade da alma. (cap. XX). São Paulo: Escala editorial, p. 82-83

domingo, 2 de agosto de 2009

CANTO TERZO - O INFERNO (DANTE)

La porta infernale - il vestibolo ove gl´ignavi corrono dietro un´insegna e son punzecchiati da mosconi e da vespe - Caronte nocchiero dell´Acheronte

Per me si va nella città dolente,
per me si va nell´eterno dolore
per me si va tra la perduta gente.

Giustizia mosse il mio alto fattore:
fecemi la divina potestate,
la somma sapienza e il primo amore.

Dinanzi a me, non fur cose create
se non eterne, ed io eterna dura:
lasciate ogni speranza, voi ch´entrate.

Queste parole di colore oscuro
vid´io scritte al sommo d´una porta;
perch´io: "Maestro, il senso lor m´è duro".

Ed egli a me, come persona accorta:
"qui si convien lasciare ogni sospetto;
ogni viltà convien che qui sia morta.

Noi sem venuti al loco ov´io t´ho detto
che tu vedrai le genti dolorose
ch´hanno perduto il ben dell´intellecto".

E poi che la sua mano alla mia pose
con lieto volto, ond´io mi confortai,
mi mise dentro alle segrette cose.
______________________

Chega o poeta às portas do inferno: Virgílio o precede - As almas dos egoístas mordidas por insetos vis - o rio Aqueronte e o barqueiro Caronte.

Entra-se por mim na cidade da tristeza:
entra-se por mim no abismo da eterna dor:
entra-se por mim na mansão dos condenados.

A eterna Justiça moveu Deus a criar-me:
obra sou da Divina Potestade,
da suma sapiência e do primeiro Amor.

Antes de mim não foram criadas,
senão substâncias eternas, e eu eternamente duro:
Vós, que em mim entrais, perdi toda a esperança de sair!

Vendo estas palavras escritas em caracteres negros,
na fachada de uma porta, voltei-me para Virgílio e lhe disse:
"Mestre, o sentido desta inscrição me espanta!"

E ele, como pessoa avisada,
notando em mim novos indícios de pavor, respondeu:
"Aqui, nada de cobardia, ânimo resoluto."

Somos chegados ao lugar, onde, como te preveni,
havias de ver imersos em abismos de tormentos os desgraçados,
que perderam o maior Bem do intelecto.

E depois, tomando-me pela mão
com semblante alegre, que foi parte para me confortar,
introduziu-me nas cousas arcanas.


(ALIGHIERI, Dante. Obras Completas - contendo o texto original em italiano e a tradução em prosa portuguesa. Trad, Mons. Joaquim P. de Campos. São Paulo: Editora das Américas, sd. (vol. 2), p.68-71.

sábado, 18 de julho de 2009

NÃO - Delvanir Lopes


NÃO




Talvez não sejamos mais flores do mesmo jardim
e nosso perfume caminha por ventos diferentes.
Quem sabe o instante fez com que soubéssemos
Que a noite se estrela e se embeleza para cada um.

Não sei se sentiu o coração desmoronar lá
De uma maneira que pareceu ao despetalar da flor;
Não havia insetos, nem música que nos transportasse
E choramos naquele momento mesmo.

E se seu barco caminha por horizontes desiguais
E apenas podes acenar de longe e içar sua vela
Eu aqui choro ao vê-la e lamento não poder estar em seu barco.

Não queremos deixar de nos habitar
Quem garante que nossas cascas durarão?
São palavras que têm o poder de instaurar e destruir
Fujamos delas, amemos.

A noite continua produzindo estrelas
Mas nossa preocupação está em nós, não nelas,
Por isso é que nos confundimos
Queremos dar respostas às estrelas. Não... ( )

So, count your garden by the flowers
Never by the leaves that fall;
Count your days by the golden hours
Don’t remember clouds at all.

Count your night by stars, not shadows
Count your life with smiles, not tears,
And with joy through all your lifetime
Count your age by friends, not years.

Delvanir Lopes. In. Ponte do Tal Vez , p. 12

domingo, 5 de julho de 2009

Esse rosto na sombra - Cecília Benevides de Carvalho Meireles

Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Ideias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.

Nome: pequena lágrima atenta.



(Cecília Meireles -1901-1964-Solombra, poema 27)
THE GOLDEN KEY

One winter, when a deep snow was lying on the ground a poor boy had to GO out in a sledge to fetch Wood. As soon as he had collected together a sufficient quantity, he thought that before he returned home he would make a fire to warm himself at, because his limbs were so frozen. So sweeping the snow away he made a clear space, and presently found a small gold key. As soon as he picked it up, he began to think that where there was a key there must also be a lock; and digging in the earth he found a small iron chest. “I hope the key will fit”, thought he to himself. “There are certainly great treasures in this box!” He looked all over it, but could not find any key-hole; till at last he did discover one, which was, however, so small, that it could scarcely be seen. He tried the key, and behold!! It fitted exactly. Then he turned it once round, and now we must wait until he has quite unlocked it, and lifted the lid up, and then we shall learn what wonderful treasures were in the chest!

(GRIMM, Wilhelm and Jacob. The Golden key. In. Grimm’s Fairy Tales, New York: Barnes & Noble Classics, 2003, p. 508)

domingo, 21 de junho de 2009

Alguns desenhos meus - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - óleo sobre duratex
Delvanir Lopes - látex sobre parede Delvanir Lopes - grafite sobre canson
Delvanir Lopes - giz de cêra sobre canson

sábado, 20 de junho de 2009

MOVIMENTO DO INCERTO - Delvanir Lopes




Deixar-se
na escuridão findar e não querer
a luz do novo
é o cego que não se permite ver,
o sedento que não quer água
ou o faminto que morre diante do alimento.

Solidão com os seus
não se desfaz com o desejo,
mas a busca do movimento
para alcançar o sol
é que dá sentido à mudança.

Cadáver que renasce,
silhueta se definindo com a claridade,
são os passos em
direção ao novo.
Superação do querer.

Escuridão que quer ser luz,
água que quer aniquilar sequidão,
alimento que quer ser corpo.
Movimento do incerto.

Delvanir Lopes. In
Ponte do Tal Vez, p. 52