LOPES, Delvanir. Grafite 03/2011
quinta-feira, 31 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
INVULNERÁVEL
Quando dos carnavais da raça humana
forem caindo as máscaras grotescas
e as atitudes mais funambulescas
se desfizerem no feroz Nirvana;
quando tudo ruir na febre insana,
nas vertigens bizarras, pitorescas
de um mundo de emoções carnavalescas
que ri da Fé profunda e soberana;
vendo passar a lúgubre, funérea
galeria sinistra da Miséria,
com as máscaras do rosto desoladas;
tu que é o deus, o deus invulnerável,
resiste a tudo e fica formidável,
no silêncio das noites estreladas!
SILVEIRA, Tasso da (org.). CRUZ E SOUSA - poesia. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1986, p. 81-82.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
OUTONO
As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.
E a Terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.
Caímos todos nós. Cai esta mãe.
Olha em redor: cair é a lei geral.
E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.
RILKE, Rainer Maria. Poemas e Cartas a um jovem poeta. Trad. Geir Campos. Rio de Janeiro: Technoprint Gráfica Editora, 1970, p. 40.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
FUTURO - Delvanir Lopes
quadrar o corpo, tal qual
aquele que quer, mas não sabe bem o quê.
E feliz, quebrantar qualquer quizita, querela.
Quite em estar aqui, loquaz porque quisto pela vida.
E quando cair a noite,
em quebreira contar
como quem revive a querência, quieto,
reconhecido,
acreditando no que virá.
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LOPES, Delvanir. Futuro. I. Voragem. Pará de Minas (MG): Virtualbooks, 2010, p. 27.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
HAI-KAI
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
MUNDO GRANDE - Carlos Drummond de Andrade
Não, meu coração não é maior que o mundo.
- Ó vida futura! nós te criaremos.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso grito,
por isso frequento os jornais, me exponho
cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
[...]
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas
e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está
crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! nós te criaremos.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Mundo Grande. In. Sentimento do Mundo. Rio de Janeiro: MediaFashion, 2008, p. 73-75
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
TEUS OLHOS
Pasmei diante de teus olhos.
Eles me transportavam ao horizonte
ao pôr do sol, à manhã.
Neles havia o frescor da brisa que anunciava a chuva,
a quentura que traria um dia de calor,
havia tua alma, parceira tua,
tua essência.
Pasmei diante de teus olhos
que feito o celeste do dia sem nuvens,
profundos como o mar infindo,
eram o prenúncio de uma felicidade.
Neles percebi o sabor da aurora
e pude saudar a vida.
Vi o reflexo do meu rosto nos teus olhos.
Agora ando dentro de ti.
LOPES, D. Voragem. Pará de Minas (MG): VirtualBooks, 2010, p. 25-26.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
PARTIREI SEM DEIXAR NADA DE MIM - Delvanir Lopes
In memoriam a Duane Coulter
(1953-2010)
Partirei sem deixar nada de mim. Talvez algumas parcas lembranças que irão enfraquecendo com o tempo
até consumirem-se.
As impressões esvaecerão,
cobertas pela aragem.
Realizações de anos serão transformadas em instantes de nada.
Partirei.
Porque a carruagem de Zéfiro me espera,
o vento forte me empurra e me leva,
mesmo guerreando com a vontade.
Queria o instante eterno.
LOPES, Delvanir. Partirei sem deixar nada de mim. In: Favônio. Pará de Minas (MG): Virtual Books, p. 15.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
DISTANCE - Cecília Benevides de Carvalho Meireles (by Darlene J. Sadlier)
in front of this sea, under the stars,
seeing shapes move along?
Do they know,perchance, who they are being?
Do they feel the sky or the waters when they pass?
Or don´t they see, or don´t they remember?
Like someone from this world wh turns his eyes
towards the moon, meditating things
and stares into the vagueness.
- Towards this world pass my thoughts
so foreign, so detached,
as if this veranda were the Moon.
MEIRELES, Cecília. Distance. Translation by Darlene Sadlier. In. Imagery and theme in the poetry of Cecília Meireles - a study of Mar Absoluto, 1983, p. 110-111.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
MAIS DESENHOS - Delvanir Lopes
domingo, 15 de agosto de 2010
EMERGÊNCIA - Mário Quintana
Delvanir Lopes - óleo sobre tela
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
CARVALHAU , T.F. (org). QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. São Paulo: Globo, 2008, p. 141.
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
CARVALHAU , T.F. (org). QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. São Paulo: Globo, 2008, p. 141.
domingo, 8 de agosto de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Ao longe os montes têm neve ao sol... Fernando Pessoa
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Ao longe os montes têm neve ao sol,
Mas é suave já o frio calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.
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Hoje, Neera, não nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
Não esperamos nada
E temos frio ao sol.
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Mas tal como é, gozemos o momneto,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.
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REIS, Ricardo. In. Fernando Pessoa- poemas escolhidos. São Paulo: Klick Editora/ Estadão, 1997, p. 56
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