domingo, 22 de novembro de 2015

A queda - Albert Camus





"Quando vejo uma cara nova, algo dentro de mim faz soar o alarme. "Devagar. Perigo!" Mesmo quando a simpatia é intensa, tenho cautela. 
Sabe que em minha pequena aldeia, em uma ação de represália, um oficial alemão pediu delicadamente a uma velhinha para fazer a gentileza de escolher entre os seus dois filhos o que seria fuzilado? Escolher, já imaginou? Aquele? Não, este aqui. E vê-lo partir. Não insistamos nisso, mas creia-me, caro senhor, todas as surpresas são possíveis. Conheci um coração puro que recusava a desconfiança. Era pacifista, libertário e amava com um único amor abrangente toda a humanidade e os animais. Sim, uma alma de elite, com toda a certeza. Pois bem, durante as últimas guerras religiosas, na Europa, retirou-se para o campo. Escreveu na entrada de sua casa: "De onde quer que você venha, entre e seja bem-vindo." Quem, segundo o senhor, respondeu a este belo convite? Os milicianos, que entraram como se a casa fosse deles e o estriparam."

Camus, Albert, 1913-1960. A queda. Tradução de Valerie Rumjanek - RIO de Janeiro. e-book.

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