domingo, 11 de março de 2012
RILKE - a arte de escrever
[...] "A sua existência, mesmo na hora mais indiferente e vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal impulso. Aproxime-se então da natureza. Depois procure como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início,os temas demasiados comuns: são os mais difíceis. Nos assuntos em que tradições seguras, às vezes brilhantes, se mostram em grande número, o poeta só pode realizar obra pessoal na plena maturidade da sua força. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as lembranças. Se o quotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador nada é pobre. não há lugaresmesquinhos e indiferentes. Mesmo num cárcere cujas paredes abafassem todos os ruídos do universo, não lhe ficaria sempre a sua infância, essa preciosa, essa esplêndida riqueza, esse tesouro de recordações?" [...]
RILKE, Rainer M. Poemas e Cartas a um jovem poeta. Rio de Janeiro: Technoprint, 1970,p. 125-126.
quarta-feira, 7 de março de 2012
ALEGRIA
Alegria
Come un lampo di vita
Alegria
Come un pazzo gridare
Alegria
Del delittuoso grido
Bella ruggente pena,
Seren
Come la rabbia di amar
Alegria
Come un assalto di gioia
Alegria
I see a spark of life shining
Alegria
I hear a young minstrel sing
Alegria
Beautiful roaring scream
Of joy and sorrow,
So extreme
There is a love in me raging
Alegria
A joyous,
Magical feeling
CIRQUE DU SOLEIL
https://www.youtube.com/watch?v=GGXfiyh17uY
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
GOTAS DE HIEL - Gabriela Mistral (Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga)
a tu lengua apegado
un canto: el que debió ser entregado.
No beses: siempre queda,
por maldición extraña,
el beso al que no alcanzan las entrañas.
Reza, reza que es dulce; pero sabe
que no acierta a decir tu lengua avara
el sólo Padre Nuestro que salvara.
Y no llames la muerte por clemente,
pues en las carnes de blancura inmensa,
un jirón vivo quedará que siente
la piedra que te ahoga
y el gusano voraz que te destrenza.
Gabriela Mistral
MIRANDA SALLES, Ruth s. de; TEJEDA, Patrícia. Gabriela Mistral & Cecília Meireles.
MIRANDA SALLES, Ruth s. de; TEJEDA, Patrícia. Gabriela Mistral & Cecília Meireles.
Rio de Janeiro: ABL/ Santiago de Chile: Acad. Chil. de la Lengua, 2003, p. 30-31
domingo, 4 de dezembro de 2011
DA SOLIDÃO - Cecília Benevides de Carvalho Meireles
Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim. No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? [...] Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. [...]
Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.
MEIRELES, Cecília. Da solidão. In: Escolha o seu sonho. São Paulo: Círculo do Livro, 1974, p. 39-42.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
AS CIDADES CONTÍNUAS I
A cidade de Leônia refaz a si própria todos os dias: a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intatas, escutando as últimas lengalengas do último modelo de rádio.
Nas calçadas, envoltos em límpidos sacos plásticos, os restos de Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias,pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. Tanto que se preguna se a verdadeira paixão de Leônia é de fato, como dizem, o prazer das coisas novas e diferentes, e não o fato de expelir, de afastar de si, expurgar uma impureza recorrente. O certo é que os lixeiros são acolhidos como anjos e a sua tarefa de remover os restos da existência do dia anterior é circundada de um respeito sileencioso, como um rito que inspira a devoção, ou talvez apenas porque, uma vez que as coisas são jogadas fora, ninguém mais quer pensar nelas. (...)
O resultado é o seguinte: quanto mais Leônia expele, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de se tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se integralmente em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de anteontem e de todos os dias e lustros. (...)
CALVINO, Ítalo. As cidade contínuas I. In:______. As cidades Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. Rio de Janeiro: O Globo/ Folha de são Paulo, 2003, p. 109-110.
Nas calçadas, envoltos em límpidos sacos plásticos, os restos de Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias,pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. Tanto que se preguna se a verdadeira paixão de Leônia é de fato, como dizem, o prazer das coisas novas e diferentes, e não o fato de expelir, de afastar de si, expurgar uma impureza recorrente. O certo é que os lixeiros são acolhidos como anjos e a sua tarefa de remover os restos da existência do dia anterior é circundada de um respeito sileencioso, como um rito que inspira a devoção, ou talvez apenas porque, uma vez que as coisas são jogadas fora, ninguém mais quer pensar nelas. (...)
O resultado é o seguinte: quanto mais Leônia expele, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de se tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se integralmente em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de anteontem e de todos os dias e lustros. (...)
CALVINO, Ítalo. As cidade contínuas I. In:______. As cidades Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. Rio de Janeiro: O Globo/ Folha de são Paulo, 2003, p. 109-110.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
COISAS QUE VÊM NA SORTE - Cecília Benevides de Carvalho Meireles
Acredito nos fatos mágicos. Sinto que andamos todos entre mistérios. Entre vultos que não aparecem. Executando ações incompreensíveis. Dizendo só metades de pensamentos. Construindo só pedaços de nossa história.
Pode ser que algum dia venha uma sombra mais sábia, e me leve consigo, por um caminho que ainda não descobri.
E a tua lembrança iria como a ponta de um manto ligando os passos que vão para a frente com o chão que ficou para trás. E o gosto da tristeza seria um anel envenenado na minha boca. de modo que eu não pudesse cantar. Nem falar. Nem sorrir.
***
Mas estou persuadida de que ir ou ficar é o mesmo. Não creio nos tempos. Não creio nos lugares. Não creio nas coisas. Não creio em ninguém. Talvez em mim, unicamente e levemente.
Tudo isto apenas porque sucedeu ficares de olhos fechados. Quem diria! e, ainda que agora os abrisses, tudo seria como está.
Por isso, desconfio que, se alguma sombra vier, eu é que lhe falarei brandamente, com uma linguagem sugestiva: "Não me leves, não. Estou muito feliz aqui. Até o fim dos horizontes, não há nada que me seduza. Nem do outro lado da terra. Nem mesmo acima do céu."
MEIRELES, Cecília. Coisas que vêm na sorte. In:______. Episódio Humano. Rio de Janeiro: Desiderata/ Batel, 2007, p. 88-89.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
ORACIÓN - Rabindranath Tagore
Señor: que yo nunca rece para ser preservado de los peligros, sino para alzarme ante ellos y mirarlos cara a cara.
Que no pida la extinción de mi dolor, sino el coraje que me falta para sobreponerme a él.
Que no confíe en aliados en la guerra de la vida sobre el campo de batalla del alma: que sólo espere de mí.
Que no implore, espantado mi salvación, que tenga la fe necesaria para conquistarla.
Dame no ser ingrato: pues a tu misericorida debo mis triunfos.
Y si sucumbo, acude a mí con tu brazo fuerte. Y dame la paz, y dame la guerra!
Rabindranath Tagore
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
VIVER NÃO DÓI
Viver não dói. o que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distãncia infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
MOURA, Emílio.Itinerário Poético: poemas reunidos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 111.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
UM CANTO DO MUNDO - Delvanir Lopes
https://jpn.up.pt/2012/03/10/porto-velharias-e-antiguidades-um-negocio-de-paixoes/
Deixa-me no meu canto:
Deixa-me no meu canto:
canções velhas, vozes antigas que ressoam poeira,
mundo sem chaves, passado sem presente,
todo espera.
Deixa-me no meu mundo:
para que o sonho momentâneo seja eterno,
para que a lágrima sem porquê
e os olhos fechados
embalando o corpo em suaves voos
sejam o prenúncio do paraíso já perdido.
Deixa-me no meu mundo:
sentir vozes, ouvir aromas que não sei quais são,
que não vivi, mas que aprendi com eles a ser felicidade.
Deixa-me no meu mundo
para voltar rarefeito, recriado, alimentado
do que não morre, porque tornou-se para sempre vida.
Lopes, Delvanir . In. Voragem. Virtual Books:Pará de Minas (MG), p. 32-33.
domingo, 26 de junho de 2011
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