domingo, 7 de março de 2010

ARANHOL - Cecília Benevides de Carvalho Meireles


Alto, onde a poeira quase não alcança,
ei-la tecendo a sua frágil teia;
passa e repassa em torno e não se cansa,
não se detém, não erra, não tonteia.

Por isso também eis que, sem tardança,
pronta, a urdidura esplêndida pompeia;
e é quando a aranha rútila descansa
no resplendor de seda que a rodeia.

O sol voluptuoso e ardente incide
na trama, em cujo centro o aracnide
como um fulvo topázio resplandece.

e eu penso que é filósofa esta aranha,
e, trânsfuga do mundo, se emaranha
no sonho sutilíssimo que tece.


21 de janeiro de 1918 - MEIRELES, Cecília. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 1565.