quinta-feira, 26 de maio de 2016

trecho de NAVIO NEGREIRO - Castro Alves



(...)
Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra, 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu, que da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança, 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!... 

Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu na vaga, 
Como um íris no pélago profundo!... 
... Mas é infâmia demais... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... 
Andrada! Arranca este pendão dos ares! 
Colombo! Fecha a porta de teus mares! 

(Castro Alves, Navio negreiro.)

domingo, 15 de maio de 2016

PAZ - Mário Quintana



Essas cruzes toscas que a gente avista às vezes da janela do trem, na volta de uma estrada, são belas como árvores... Nada têm dessas admoestantes cruzes de cemitério, cheias de um religioso rancor.
As singelas cruzes da estrada não dizem coisa alguma: Parece apenas viandantes em sentido contrário.
E vão passando por nós – tão naturalmente – como nós passamos por elas.



Quintana, Mário. Paz. In A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Círculo do livro, 1977, p. 47

sábado, 14 de maio de 2016

(18) - Delvanir Lopes


Sim ao eco que grita
e à sombra que persegue;
sim ao vento que dobra;
sim ao sol que escurece;

sim ao que não concordamos
ou ao que não se entende;
sim ao que não procuramos;
sim ao que não se aprende;

sim de todas as maneiras;
sim à vida e à morte;
sim ao que é alegria,
ao que não é boa sorte.

Porque esse é o fado
que não nos deixa escolha:
na árvore da existência

ser apenas uma folha.

Lopes, Delvanir. (18). In Decanto. São Paulo: PerSe, 2016, p. 43.