A cidade de Leônia refaz a si própria todos os dias: a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intatas, escutando as últimas lengalengas do último modelo de rádio.
Nas calçadas, envoltos em límpidos sacos plásticos, os restos de Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias,pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. Tanto que se preguna se a verdadeira paixão de Leônia é de fato, como dizem, o prazer das coisas novas e diferentes, e não o fato de expelir, de afastar de si, expurgar uma impureza recorrente. O certo é que os lixeiros são acolhidos como anjos e a sua tarefa de remover os restos da existência do dia anterior é circundada de um respeito sileencioso, como um rito que inspira a devoção, ou talvez apenas porque, uma vez que as coisas são jogadas fora, ninguém mais quer pensar nelas. (...)
O resultado é o seguinte: quanto mais Leônia expele, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de se tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se integralmente em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de anteontem e de todos os dias e lustros. (...)
CALVINO, Ítalo. As cidade contínuas I. In:______. As cidades Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. Rio de Janeiro: O Globo/ Folha de são Paulo, 2003, p. 109-110.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
COISAS QUE VÊM NA SORTE - Cecília Benevides de Carvalho Meireles
Acredito nos fatos mágicos. Sinto que andamos todos entre mistérios. Entre vultos que não aparecem. Executando ações incompreensíveis. Dizendo só metades de pensamentos. Construindo só pedaços de nossa história.
Pode ser que algum dia venha uma sombra mais sábia, e me leve consigo, por um caminho que ainda não descobri.
E a tua lembrança iria como a ponta de um manto ligando os passos que vão para a frente com o chão que ficou para trás. E o gosto da tristeza seria um anel envenenado na minha boca. de modo que eu não pudesse cantar. Nem falar. Nem sorrir.
***
Mas estou persuadida de que ir ou ficar é o mesmo. Não creio nos tempos. Não creio nos lugares. Não creio nas coisas. Não creio em ninguém. Talvez em mim, unicamente e levemente.
Tudo isto apenas porque sucedeu ficares de olhos fechados. Quem diria! e, ainda que agora os abrisses, tudo seria como está.
Por isso, desconfio que, se alguma sombra vier, eu é que lhe falarei brandamente, com uma linguagem sugestiva: "Não me leves, não. Estou muito feliz aqui. Até o fim dos horizontes, não há nada que me seduza. Nem do outro lado da terra. Nem mesmo acima do céu."
MEIRELES, Cecília. Coisas que vêm na sorte. In:______. Episódio Humano. Rio de Janeiro: Desiderata/ Batel, 2007, p. 88-89.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
ORACIÓN - Rabindranath Tagore
Señor: que yo nunca rece para ser preservado de los peligros, sino para alzarme ante ellos y mirarlos cara a cara.
Que no pida la extinción de mi dolor, sino el coraje que me falta para sobreponerme a él.
Que no confíe en aliados en la guerra de la vida sobre el campo de batalla del alma: que sólo espere de mí.
Que no implore, espantado mi salvación, que tenga la fe necesaria para conquistarla.
Dame no ser ingrato: pues a tu misericorida debo mis triunfos.
Y si sucumbo, acude a mí con tu brazo fuerte. Y dame la paz, y dame la guerra!
Rabindranath Tagore
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
VIVER NÃO DÓI
Viver não dói. o que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distãncia infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
MOURA, Emílio.Itinerário Poético: poemas reunidos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 111.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
UM CANTO DO MUNDO - Delvanir Lopes
https://jpn.up.pt/2012/03/10/porto-velharias-e-antiguidades-um-negocio-de-paixoes/
Deixa-me no meu canto:
Deixa-me no meu canto:
canções velhas, vozes antigas que ressoam poeira,
mundo sem chaves, passado sem presente,
todo espera.
Deixa-me no meu mundo:
para que o sonho momentâneo seja eterno,
para que a lágrima sem porquê
e os olhos fechados
embalando o corpo em suaves voos
sejam o prenúncio do paraíso já perdido.
Deixa-me no meu mundo:
sentir vozes, ouvir aromas que não sei quais são,
que não vivi, mas que aprendi com eles a ser felicidade.
Deixa-me no meu mundo
para voltar rarefeito, recriado, alimentado
do que não morre, porque tornou-se para sempre vida.
Lopes, Delvanir . In. Voragem. Virtual Books:Pará de Minas (MG), p. 32-33.
domingo, 26 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
PACTO DE ALMAS
I
PARA SEMPRE
Ah! Para sempre! para sempre! Agora
não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais , nesta harmonia
das nossas almas de divina aurora.
das nossas almas de divina aurora.
A voz do céu pode vibrar sonora
ou do Inferno a sinistra sinfonia,
que num fundo de astral melancolia
minh'alma com a tu'alma goza e chora.
Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos seremos no celeste tato,
do Sonho envoltos na estrelada rede,
E perdidas, perdidas no infinito
as nossas almas, no clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede...
Cruz e sousa. Pacto de almas. In. _____.Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1982, p. 92-93.
terça-feira, 5 de abril de 2011
I HAVE A DREAM
if you see the wonder of a fairy tale you can take the future even if you fail
I believe in angels, something good in everything I see
I believe in angels when I know the time is right for me
I 'll cross the stream, I have a dream.
I have a dream, a fantasy to help me through reality and my destination
makes it worth the while pushing through the darkness still another mile
I believe in angels, something good in everything I see
I believe in angels when I know the time is right for me
I 'll cross the stream, I have a dream.
ABBA
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