sábado, 21 de junho de 2014
a primeira atitude para com o outro
Tudo o que vale para mim vale para o Outro [...]. Se partirmos da revelação inicial do Outro como olhar, devemos reconhecer que experimentamos nosso inapreensível Ser-para-o-Outro na forma de uma posse.Sou possuído pelo Outro; o olhar do Outro modela meu corpo em sua nudez, causa seu nascer, o esculpe, o produz como é, o vê como jamais o verei. O Outro detém um segredo: o segredo do que sou.[...] Esta forma de "propriedade", com a qual tão comumente se explica o amor, não poderia ser primordial, com efeito. Por que iria eu querer apropriar-me do Outro não fosse precisamente na medida em que o Outro me faz ser? Mas isso comporta justamente certo modo de apropriação: é da liberdade do outro enquanto tal que queremos nos apoderar.[..] Que bom é ter olhos, cabelos, sobrancelhas, e esbanjá-los incansavelmente em um transbordamento de generosidade a esse desejo infatigável que o Outro faz-se livremente ser.
Sartre, JP. O ser e o nada. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 454ss.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
DE PROFUNDIS CLAMAVI - Charles Baudelaire
J'implore ta pitié, Toi, l'unique que j'aime,
Du fond du gouffre obscur où mon coeur est tombé.
C'est un univers morne à l'horizon plombé,
Où nagent dans la nuit l'horreur et le blasphème;
Un soleil sans chaleur plane au-dessus six mois,
Et les six autres mois la nuit couvre la terre;
C'est un pays plus nu que la terre polaire
-- Ni bêtes, ni ruisseaux, ni verdure, ni bois!
Or il n'est pas d'horreur au monde qui surpasse
La froide cruauté de ce soleil de glace
Et cette immense nuit semblable au vieux Chaos;
Je jalouse le sort des plus vils animaux
Qui peuvent se plonger dans un sommeil stupide,
Tant l'écheveau du temps lentement se dévide!
BAUDELAIRE, Charles. In Les fleurs du mal.
terça-feira, 29 de abril de 2014
AMOR ETERNO
Podrá nublarse el sol eternamente;
Podrá secarse en un instante el mar;
Podrá romperse el eje de la tierra
Como un débil cristal.
¡todo sucederá! Podrá la muerte
Cubrirme con su fúnebre crespón;
Pero jamás en mí podrá apagarse
La llama de tu amor.
Podrá secarse en un instante el mar;
Podrá romperse el eje de la tierra
Como un débil cristal.
¡todo sucederá! Podrá la muerte
Cubrirme con su fúnebre crespón;
Pero jamás en mí podrá apagarse
La llama de tu amor.
Gustavo Adolfo Bécquer
domingo, 6 de abril de 2014
PREPARAÇÃO PARA A MORTE
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
---Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
BANDEIRA, Manuel. In. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 268.
terça-feira, 11 de março de 2014
domingo, 9 de março de 2014
Rota fortunae - Delvanir Lopes
Foi
nos dias de verão
quando
os delírios se tornaram mais intensos,
que
no sol,
jardins
irreais,
por
onde passeei tantas horas,
iam,
translúcidos,
sendo
taciturnos desertos.
Foi
nos dias de angústia,
quando
as flechas,
torres
secas,
sombras
e céu sem nuvens,
-
esse cemitério de sonhos -
iam
gerando braços mortos,
enlaçados,
que
um dia quis imortais.
Libertar,
fugir
dos nós do jogo sem convite.
Esperar,
sem
paciência, que o gelo derreta a loucura
que
já domina meus dias.
Aceitar,
chorando,
o novo lance do acaso.
São
tantas despedidas
no
verão do sofrimento
quando
as almas se derretem
e atravessam os vitrais do tempo
para
pousarem em jardins de vento
e serem só perfume...
que
espero a primavera,
quando
as sementes de cores
atrairão
aves migratórias
para
povoar esse jardim;
quando
os ventos do poente
virão,
mansamente,
girar,
ainda uma vez,
a
roda do meu destino.
LOPES, Delvanir. Rota Fortunae In: Jardim de concisos. Florianópolis: Bookess, 2015, p. 63-64.
domingo, 2 de março de 2014
MADRUGADO - Delvanir Lopes
Cheguei
antes do sol,
carregado
de noite e de orvalho,
protegido
no silêncio em meio às árvores
sem
primavera.
O assovio de morte que atravessa os
galhos,
secos
e tortos,
respira
próximo aos meus ouvidos,
sussura
que não é o fim
e
leva os pensamentos
que,
desprendidos,
voam
para a saudade
e
se libertam no esquecimento.
LOPES, Delvanir. Epítomes, concisos e nótulas. Pará de Minas: VirtualBooks, p.13. (no prelo)
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.
QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. São Paulo: Globo, 2008, p. 113
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
O menino do dedo verde - fragmentos
É preciso acontecimentos extraordinários para que se deem férias às crianças. uma cadeia que floresce desperta sem dúvida uma grande surpresa; mas a gente logo se habitua, e acaba achando natural que um gigantesco jardim se eleve em lugar de muros cinzentos.
A gente se habitua a tudo, mesmo às coisas mais estranhas.
[...]
"Para esta menina sarar, pensava ele, é preciso que ela deseje ver o dia seguinte. Uma flor, com sua maneira de abrir-se, de improvisar surpresas, poderia talvez ajudá-la. .. Uma flor que cresce é uma verdadeira adivinhação, que recomeça cada manhã. Um dia ela entreabre um botão, um outro desfralda uma folha mais verde que uma rã, num outro desenrola uma pétala... Talvez esta menina esqueça a doença, esperando cada dia uma surpresa..."
DRUON, Maurice. O menino do dedo verde. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Extreme moment - Delvanir Lopes
When
I'm leaving
I ask
gusts of light wind,
For
long hugs,
No
goodbyes ....
and
no waves.
I ask
the rain coming slowly.
Warm
drops smelling orange
Washing
the flowers,
Taking
the dust that has accumulated in the short days of existence;
Feeding
the seeds
For
new beginnings.
I ask
the bees and crickets,
I ask
birds with feathers of the rainbow,
I ask
endless flocks,
I ask
flute music,
I ask
the sound of drums,
I ask
dance, I ask chants
I ask
improvised rhymes and smiles of party.
I ask
high trees and cool shadows to the path
without
arrows.
No
time to review the steps,
No
sorrow for sighs that will extinguish,
One by one,
And lost in the void ...
Leave traces,
Leave fall the peel in slowly
and become what it was.
Go towards the beyond of the haphazard
Longing by the columns of cloud
The sky emerald
And the doors through which I want to pass.
by Delvanir Lopes (18/07/2013)
poema inédito, livro ainda no prelo.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
sexta-feira, 21 de junho de 2013
DIALÉTICA
É CLARO QUE A VIDA É BOA
E A ALEGRIA, A ÚNICA INDIZÍVEL EMOÇÃO
É CLARO QUE TE ACHO LINDA
E EM TI BENDIGO O AMOR DAS COISAS SIMPLES
É CLARO QUE TE AMO
E TENHO TUDO PARA SER FELIZ
MAS ACONTECE QUE EU SOU TRISTE...
Vinicius de Moraes In.Para viver um grande amor. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008, p. 195.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
VI O PLANALTO QUANDO CHEGUEI AO TOPO - Delvanir Lopes
Vi o planalto quando cheguei ao topo.
Penas umedecidas
com gotas de cansaço
pelos vôos constantes.
Ofegar, ofegar...
e no entremear dos olhos
uma luz,
que foi o que busquei.
Rejuvenescer as asas,
recriar...
Ofegar, arfar
em direção ao último limite,
último planalto,
alto, alto.
LOPES, Delvanir. In. Favônio. Pará de Minas (MG): Virtual Books, p. 9.
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