quinta-feira, 7 de julho de 2011

UM CANTO DO MUNDO - Delvanir Lopes

https://jpn.up.pt/2012/03/10/porto-velharias-e-antiguidades-um-negocio-de-paixoes/


Deixa-me no meu canto:

canções velhas, vozes antigas que ressoam poeira,

mundo sem chaves, passado sem presente,

todo espera.


Deixa-me no meu mundo:

para que o sonho momentâneo seja eterno,

para que a lágrima sem porquê

e os olhos fechados

embalando o corpo em suaves voos

sejam o prenúncio do paraíso já perdido.


Deixa-me no meu mundo:

sentir vozes, ouvir aromas que não sei quais são,

que não vivi, mas que aprendi com eles a ser felicidade.


Deixa-me no meu mundo

para voltar rarefeito, recriado, alimentado

do que não morre, porque tornou-se para sempre vida.




Lopes, Delvanir . In. Voragem. Virtual Books:Pará de Minas (MG), p. 32-33.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

desenhos - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - giz de cera e esferográfica
junho 2011
Delvanir Lopes - autorretrato - pastel seco e giz de cera sobre canson junho 2011

Delvanir Lopes - pastel oleoso sobre canson

Junho 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PACTO DE ALMAS

I

PARA SEMPRE





Ah! Para sempre! para sempre! Agora
não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais , nesta harmonia
das nossas almas de divina aurora.


A voz do céu pode vibrar sonora
ou do Inferno a sinistra sinfonia,
que num fundo de astral melancolia
minh'alma com a tu'alma goza e chora.


Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos seremos no celeste tato,
do Sonho envoltos na estrelada rede,

E perdidas, perdidas no infinito
as nossas almas, no clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede...


Cruz e sousa. Pacto de almas. In. _____.Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1982, p. 92-93.

terça-feira, 5 de abril de 2011

I HAVE A DREAM

I have a dream, a song to sing to help me cope to anything


if you see the wonder of a fairy tale you can take the future even if you fail


I believe in angels, something good in everything I see


I believe in angels when I know the time is right for me


I 'll cross the stream, I have a dream.




I have a dream, a fantasy to help me through reality and my destination


makes it worth the while pushing through the darkness still another mile


I believe in angels, something good in everything I see


I believe in angels when I know the time is right for me


I 'll cross the stream, I have a dream.




ABBA


segunda-feira, 14 de março de 2011

INVULNERÁVEL




Quando dos carnavais da raça humana
forem caindo as máscaras grotescas
e as atitudes mais funambulescas
se desfizerem no feroz Nirvana;

quando tudo ruir na febre insana,
nas vertigens bizarras, pitorescas
de um mundo de emoções carnavalescas
que ri da Fé profunda e soberana;

vendo passar a lúgubre, funérea
galeria sinistra da Miséria,
com as máscaras do rosto desoladas;

tu que é o deus, o deus invulnerável,
resiste a tudo e fica formidável,
no silêncio das noites estreladas!


SILVEIRA, Tasso da (org.). CRUZ E SOUSA - poesia. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1986, p. 81-82.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OUTONO


As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.

E a Terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.

Caímos todos nós. Cai esta mãe.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.


RILKE, Rainer Maria. Poemas e Cartas a um jovem poeta. Trad. Geir Campos. Rio de Janeiro: Technoprint Gráfica Editora, 1970, p. 40.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

FUTURO - Delvanir Lopes

Quando quarar o dia quero sair de mim;
quadrar o corpo, tal qual
aquele que quer, mas não sabe bem o quê.
E feliz, quebrantar qualquer quizita, querela.
Quite em estar aqui, loquaz porque quisto pela vida.
E quando cair a noite,
em quebreira contar
como quem revive a querência, quieto,
reconhecido,
acreditando no que virá.
.
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LOPES, Delvanir. Futuro. I. Voragem. Pará de Minas (MG): Virtualbooks, 2010, p. 27.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

HAI-KAI






Em meio da ossaria

Uma caveira piscava-me...

Havia um vagalume dentro dela.



QUINTANA, Mário. Hai-Kai. In. A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Círculo do Livro, 1977, p. 19.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MUNDO GRANDE - Carlos Drummond de Andrade



Não, meu coração não é maior que o mundo. 
É muito menor. 
Nele não cabem nem as minhas dores. 
Por isso gosto tanto de me contar. 
Por isso me dispo, 
por isso grito, 
por isso frequento os jornais, me exponho 
cruamente nas livrarias: 
preciso de todos. 

Sim, meu coração é muito pequeno. 
Só agora vejo que nele não cabem os homens. 
Os homens estão cá fora, estão na rua. 
A rua é enorme. Maior, muito maior que eu esperava. 
Mas também a rua não cabe todos os homens. 
A rua é menor que o mundo. 
O mundo é grande. 

Tu sabes como é grande o mundo. 
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. [...] 

Outrora escutei os anjos, 
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. 
Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. 

Outrora viajei 
países imaginários, fáceis de habitar, 
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas 
e convocando ao suicídio. 

Meus amigos foram às ilhas. 
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia 
de que o mundo, o grande mundo está 
crescendo todos os dias, 
entre o fogo e o amor. 

Então, meu coração também pode crescer. 
entre o amor e o fogo, 
entre a vida e o fogo, 
meu coração cresce dez metros e explode. 


- Ó vida futura! nós te criaremos.


ANDRADE, Carlos Drummond de. Mundo Grande. In. Sentimento do Mundo. Rio de Janeiro: MediaFashion, 2008, p. 73-75