segunda-feira, 15 de agosto de 2011

VIVER NÃO DÓI



Viver não dói. o que dói

é a vida que não se vive.

Tanto mais bela sonhada,

quanto mais triste perdida.


Viver não dói. O que dói

é o tempo, essa força onírica

em que se criam os mitos

que o próprio tempo devora.


Viver não dói. O que dói

é essa estranha lucidez,

misto de fome e de sede

com que tudo devoramos.


Viver não dói. O que dói

ferindo fundo, ferindo,

é a distãncia infinita

entre a vida que se pensa

e o pensamento vivido.


Que tudo o mais é perdido.


MOURA, Emílio.Itinerário Poético: poemas reunidos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 111.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

UM CANTO DO MUNDO - Delvanir Lopes

https://jpn.up.pt/2012/03/10/porto-velharias-e-antiguidades-um-negocio-de-paixoes/


Deixa-me no meu canto:

canções velhas, vozes antigas que ressoam poeira,

mundo sem chaves, passado sem presente,

todo espera.


Deixa-me no meu mundo:

para que o sonho momentâneo seja eterno,

para que a lágrima sem porquê

e os olhos fechados

embalando o corpo em suaves voos

sejam o prenúncio do paraíso já perdido.


Deixa-me no meu mundo:

sentir vozes, ouvir aromas que não sei quais são,

que não vivi, mas que aprendi com eles a ser felicidade.


Deixa-me no meu mundo

para voltar rarefeito, recriado, alimentado

do que não morre, porque tornou-se para sempre vida.




Lopes, Delvanir . In. Voragem. Virtual Books:Pará de Minas (MG), p. 32-33.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

desenhos - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - giz de cera e esferográfica
junho 2011
Delvanir Lopes - autorretrato - pastel seco e giz de cera sobre canson junho 2011

Delvanir Lopes - pastel oleoso sobre canson

Junho 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PACTO DE ALMAS

I

PARA SEMPRE





Ah! Para sempre! para sempre! Agora
não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais , nesta harmonia
das nossas almas de divina aurora.


A voz do céu pode vibrar sonora
ou do Inferno a sinistra sinfonia,
que num fundo de astral melancolia
minh'alma com a tu'alma goza e chora.


Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos seremos no celeste tato,
do Sonho envoltos na estrelada rede,

E perdidas, perdidas no infinito
as nossas almas, no clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede...


Cruz e sousa. Pacto de almas. In. _____.Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1982, p. 92-93.

terça-feira, 5 de abril de 2011

I HAVE A DREAM

I have a dream, a song to sing to help me cope to anything


if you see the wonder of a fairy tale you can take the future even if you fail


I believe in angels, something good in everything I see


I believe in angels when I know the time is right for me


I 'll cross the stream, I have a dream.




I have a dream, a fantasy to help me through reality and my destination


makes it worth the while pushing through the darkness still another mile


I believe in angels, something good in everything I see


I believe in angels when I know the time is right for me


I 'll cross the stream, I have a dream.




ABBA


segunda-feira, 14 de março de 2011

INVULNERÁVEL




Quando dos carnavais da raça humana
forem caindo as máscaras grotescas
e as atitudes mais funambulescas
se desfizerem no feroz Nirvana;

quando tudo ruir na febre insana,
nas vertigens bizarras, pitorescas
de um mundo de emoções carnavalescas
que ri da Fé profunda e soberana;

vendo passar a lúgubre, funérea
galeria sinistra da Miséria,
com as máscaras do rosto desoladas;

tu que é o deus, o deus invulnerável,
resiste a tudo e fica formidável,
no silêncio das noites estreladas!


SILVEIRA, Tasso da (org.). CRUZ E SOUSA - poesia. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1986, p. 81-82.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OUTONO


As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.

E a Terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.

Caímos todos nós. Cai esta mãe.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.


RILKE, Rainer Maria. Poemas e Cartas a um jovem poeta. Trad. Geir Campos. Rio de Janeiro: Technoprint Gráfica Editora, 1970, p. 40.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

FUTURO - Delvanir Lopes

Quando quarar o dia quero sair de mim;
quadrar o corpo, tal qual
aquele que quer, mas não sabe bem o quê.
E feliz, quebrantar qualquer quizita, querela.
Quite em estar aqui, loquaz porque quisto pela vida.
E quando cair a noite,
em quebreira contar
como quem revive a querência, quieto,
reconhecido,
acreditando no que virá.
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LOPES, Delvanir. Futuro. I. Voragem. Pará de Minas (MG): Virtualbooks, 2010, p. 27.