Hoje que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz.Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se tudo é tinta: o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queiraa moda, que me vai matando.Que me levem pele e caveiraao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados, olhos, braços e sonhos seuse morreu pelos seus pecados,falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,do alto penteado ao rubro artelho.Porque uns expiram sobre cruzes,outros, buscando-se no espelho.
MEIRELES, Cecília. Mulher ao espelho. In: Poesia completa. São Paulo: Global, 2017, p. 536. (Mar Absoluto e outros poemas, vol. 1)
foto - Reyner Criative - Pixabay
Nenhum comentário:
Postar um comentário