segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

DESENHOS GRAFITE - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - grafite sobre canson
Delvanir Lopes - grafite sobre canson
Delvanir Lopes - grafite sobre canson

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PARTIREI SEM DEIXAR NADA DE MIM - Delvanir Lopes

Partirei sem deixar nada de mim. 
Talvez algumas parcas lembranças que irão enfraquecendo com o tempo 
até consumirem-se. 

As impressões esvaecerão, 
cobertas pela areia da aragem. 
Realizações de anos serão transformadas em instantes de nada. 

Partirei. 
Porque a carruagem de Zéfiro me espera, 
o vento forte me empurra e me leva, 
mesmo guerreando com a vontade. 

Queria o instante eterno. 


Delvanir Lopes. Favônio, p. 15

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke





[...] Indaga-me se os seus versos são bons. Pergunta a mim, depois de ter perguntado a várias pessoas. [...] O seu olhar está voltado para o exterior. Eis o que não deve acontecer. Ninguém pode dar-lhe conselhos nem ajudá-lo - ninguém! Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração. Confesse à sua alma: "Morreria, se não me fosse permitido escrever?" [...] Examine-se a fundo, até achar a mais profunda resposta. Se ela for afirmativa, se puder fazer face a tão grave interrogação com um forte e simples "sou" , então construa a sua vida em harmonia com esta necessidade. a sua existência, mesmo na ora mais indiferente e vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal impulso. aproxime-se então da natureza. Depois procure como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são os mais difíceis. Nos assuntos em que tradições seguras, às vezes brilhantes, se mostram em grande número, o poeta só pode realizar obra pessoal na plena maturidade da sua força. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia a dia lhe oferece. fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade calma e humilde. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. [...]
RILKE, R. M. Poemas e Cartas a um jovem poeta. Rio de Janeiro: Technoprint, 1970, pp. 122-125

sábado, 19 de dezembro de 2009

PREGHIERA SEMPLICE - S. Francesco d'Assisi


O SIGNORE, FA´ DI ME UNO STRUMENTO DELLA TUA PACE. 
DOVE È ODIO, FA´ CH´IO PORTI L´AMORE, 
DOVE È OFFESA, CH´IO PORTI IL PERDONO, 
DOVE È DISCORDIA, CH´IO PORTI L´UNIONE, 
DOVE È DUBBIO, CH´IO PORTI LA FEDE, 
DOVE È ERRORE, CH´IO PORTI LA VERITÀ, 
DOVE È DISPERAZIONE, CH´IO PORTI LA SPERANZA, 
DOVE È TRISTEZZA, CH´IO PORTI LA GIOIA, 
DOVE SONO LE TENEBRE, CH´IO PORTI LA LUCE. 

O MAESTRO, FA´ CH´IO NON CERCHI TANTO: 
ESSERE CONSOLATO, QUANTO CONSOLARE; 
ESSERE COMPRESO, QUANTO COMPRENDERE; 
ESSERE AMATO, QUANTO AMARE. 

POICHÈ: 
SI È DANDO CHE SI RICEVE; 
PERDONANDO CHI SI È PERDONATI; 
MORENDO CHE SI RISUSCITA A VITA ETERNA. 

 S. FRANCESCO

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SÉSAMO - Delvanir Lopes

Quero uma garça verde
revoar com ela, e amparado em suas asas, atingir o azul,
fazer rodopios e pensar que sou eu quem voa
e ser levado nos dedos do vento para qualquer lugar.
Quero uma garça que carregue no bico
sementes de gergelim, férteis, sedentas da criação,
e me deixe ser seu acólito na tarefa de espalhá-las,
sem lugar certo, sem direção;
tomá-las nas mãos e atirar a esmo,
ver os pequenos grãos caindo como chuva
penetrarem nos traços deixados na terra.

Quero uma garça negra,

que voe baixo para que ouça o ruído do solo
engolindo as sementes;
que voe alto para que veja as primeiras folhas
esticando-se para o sol,
e que caminhe nas águas
para que eu entenda a cor do entardecer.

Delvanir LOPES. 15/9/09 - Inéditos

domingo, 8 de novembro de 2009

Olhai os lírios do campo - Érico Lopes Veríssimo

Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na "outra vida". Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo. (...) E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária e do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar.

VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Globo, 1995, pp. 154-155

domingo, 1 de novembro de 2009

VOO - Cecília Meireles


A Darcy Damasceno



Alheias e nossas
as palavras voam.
Bando de borboletas multicolores,
as palavras voam.
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Voam as palavras
como águias imensas.
Como escuros morcegos
como negros abutres,
as palavras voam.
oh! alto e baixo
em círculos e retas
acima de nós, em redor de nós
as palavras voam.
E às vezes pousam.


(abril 1964)
MEIRELES, CECÍLIA. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987, p. 627

sábado, 24 de outubro de 2009

CANTICO DI FRATE SOLE (século XIII)


canticum fratis solis vel Laudes creaturarum



Altissimo, omnipotente, bon Signore
tue so´le laude, la gloria e l´honore et onne benedictione.
Ad te solo, Altissimo, se confano
e nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi´signore, cum tucte le tue criature,
spetialmente messer lo frate sole,
lo qual´è iorno, et allumini noi per lui
et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si´, mi´Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l´ài fomate clarite e pretiose e belle.
Laudato si´, mi´Signore, per frate vento
e per aere nubilo e sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sostentamento.
Laudato si´, mi´Signore, per sor´acqua,
la quale è molto utile et humile et pretiosa et casta.
laudato si´, mi´Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
et ello è bello et iocondo e robustoso e forte.
Laudato si´, mi´Signore, pero sora nostra madre terra,
la quale ne sustenta et governa,
e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.
Laudato si´, mi´Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore
e sostengono infirmitate e tribulatione.
Beatti quelli ke´l sosteranno in pace
ca da te, Altissimo, sirano incoronati.
Laudato si´, mi´Signore, per sora nostra morte corporale
da la quale nullu homo vivente po´scappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ca la morte secunda no ´l farà male.
Laudate et benedicete mi´Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.

(Interpretação) http://www.hottopos.com/seminario/sem2/pedro.htm

sábado, 10 de outubro de 2009


CANÇÃO - Emilio Moura

Viver não dói. O que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivivdo.
Que tudo o mais é perdido.
Emílio Moura, Itinerário Poético - poemas reunidos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002, p. 111

domingo, 20 de setembro de 2009

DESENHOS - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes: grafite 6b, giz de cera, caneta esferográfica
Delvanir Lopes: lápis aquarela, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, caneta esferográfica, grafite 6B
Delvanir Lopes: giz de cera, pastel seco,caneta esferográfica

sábado, 5 de setembro de 2009

PORQUÊS - Delvanir Lopes






PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS

E ENCONTREI PORÉNS.

DEIXEI O INCONDICIONAL E CHEGUEI AO DEFINIDO.

ERAM MAIS VÍRGULAS DO QUE PONTOS FINAIS;

INTERROGATIVAS E RETICÊNCIAS.

NÃO CHEGAVA A AFIRMAÇÕES

E SEMPRE HAVIA O TALVEZ

PENETRANDO TUDO E ALIMENTANDO O INEXATO.


PASSEI DIAS IMAGINANDO OS PORQUÊS,

MAS NÃO APARECEM, NEM SOMEM.

FLORESCEM, AUMENTAM,

IMPREGNAM-SE MAIS E MAIS.

NÃO CHEGUEI À ASSERTIVA.

FAREI POEMAS DE PORQUÊS.


Delvanir Lopes
(Ponte do Tal Vez, 2008, p. 11)