sábado, 18 de julho de 2009

NÃO - Delvanir Lopes


NÃO




Talvez não sejamos mais flores do mesmo jardim
e nosso perfume caminha por ventos diferentes.
Quem sabe o instante fez com que soubéssemos
Que a noite se estrela e se embeleza para cada um.

Não sei se sentiu o coração desmoronar lá
De uma maneira que pareceu ao despetalar da flor;
Não havia insetos, nem música que nos transportasse
E choramos naquele momento mesmo.

E se seu barco caminha por horizontes desiguais
E apenas podes acenar de longe e içar sua vela
Eu aqui choro ao vê-la e lamento não poder estar em seu barco.

Não queremos deixar de nos habitar
Quem garante que nossas cascas durarão?
São palavras que têm o poder de instaurar e destruir
Fujamos delas, amemos.

A noite continua produzindo estrelas
Mas nossa preocupação está em nós, não nelas,
Por isso é que nos confundimos
Queremos dar respostas às estrelas. Não... ( )

So, count your garden by the flowers
Never by the leaves that fall;
Count your days by the golden hours
Don’t remember clouds at all.

Count your night by stars, not shadows
Count your life with smiles, not tears,
And with joy through all your lifetime
Count your age by friends, not years.

Delvanir Lopes. In. Ponte do Tal Vez , p. 12

domingo, 5 de julho de 2009

Esse rosto na sombra - Cecília Benevides de Carvalho Meireles

Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Ideias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.

Nome: pequena lágrima atenta.



(Cecília Meireles -1901-1964-Solombra, poema 27)
THE GOLDEN KEY

One winter, when a deep snow was lying on the ground a poor boy had to GO out in a sledge to fetch Wood. As soon as he had collected together a sufficient quantity, he thought that before he returned home he would make a fire to warm himself at, because his limbs were so frozen. So sweeping the snow away he made a clear space, and presently found a small gold key. As soon as he picked it up, he began to think that where there was a key there must also be a lock; and digging in the earth he found a small iron chest. “I hope the key will fit”, thought he to himself. “There are certainly great treasures in this box!” He looked all over it, but could not find any key-hole; till at last he did discover one, which was, however, so small, that it could scarcely be seen. He tried the key, and behold!! It fitted exactly. Then he turned it once round, and now we must wait until he has quite unlocked it, and lifted the lid up, and then we shall learn what wonderful treasures were in the chest!

(GRIMM, Wilhelm and Jacob. The Golden key. In. Grimm’s Fairy Tales, New York: Barnes & Noble Classics, 2003, p. 508)

domingo, 21 de junho de 2009

Alguns desenhos meus - Delvanir Lopes

Delvanir Lopes - óleo sobre duratex
Delvanir Lopes - látex sobre parede Delvanir Lopes - grafite sobre canson
Delvanir Lopes - giz de cêra sobre canson

sábado, 20 de junho de 2009

MOVIMENTO DO INCERTO - Delvanir Lopes




Deixar-se
na escuridão findar e não querer
a luz do novo
é o cego que não se permite ver,
o sedento que não quer água
ou o faminto que morre diante do alimento.

Solidão com os seus
não se desfaz com o desejo,
mas a busca do movimento
para alcançar o sol
é que dá sentido à mudança.

Cadáver que renasce,
silhueta se definindo com a claridade,
são os passos em
direção ao novo.
Superação do querer.

Escuridão que quer ser luz,
água que quer aniquilar sequidão,
alimento que quer ser corpo.
Movimento do incerto.

Delvanir Lopes. In
Ponte do Tal Vez, p. 52

sexta-feira, 19 de junho de 2009

PENSEI NA LUZ DO SOL - Delvanir Lopes




Pensei na luz do sol
Que se banhava em minha tez
E na flor que impregnou seu perfume
Em cada parte de meu ser.

Oh sutil favônio
Que foges da minha mão
E escapas do meu olhar,
Prende com tuas garras frágeis
Em mim a felicidade!

Pensei em paisagens longas
Que meus olhos não foram capazes de ver
E nas inúmeras sensações que tive
Ao tocar, ainda que pouco, tua presença.

Oh aragem que, sem direção,
Me levas tão perto de mim
E mostras o profundo que não sei
Ao achar que me conheço!

São sons, delícias, visões,
Que não fiz nem provei.
São ilusões que o vento transporta
Em tua carruagem.

Oh luz que penetras o sonho -
Escuridão, que morres e tudo mostras -
Traze em teu hálito de fogo
As sementes do meu porvir!


Delvanir Lopes. In
Favônio, p. 17-18