terça-feira, 11 de maio de 2021

Desencanto - Manuel Bandeira


 

Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto. 

Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

— Eu faço versos como quem morre.

 

(Teresópolis, 1912)


Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
In: A cinza das horas,  1917

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